“Overthinking não é sinal de profundidade, mas de exaustão mental disfarçada.”
Imagine estar preso em uma sala onde os pensamentos ecoam, se multiplicam e nunca cessam. Isso é o overthinking. Silencioso por fora, barulhento por dentro. Um processo mental que se veste de racionalidade, mas que esconde angústia, medo e, muitas vezes, paralisia.
O que é overthinking e por que ele nos engole?
Overthinking, ou pensamento excessivo, é como uma repetição mental disfarçada de busca por solução. Ao invés de resolver, ele perpetua o problema. Quem sofre com isso geralmente está tentando controlar o incontrolável — o futuro, o julgamento alheio, ou até os próprios sentimentos.
Mas o que há por trás dessa necessidade incontrolável de pensar demais?
Na base do overthinking, quase sempre, está o medo. Medo de errar, de não ser suficiente, de não agradar. E esse medo, ao invés de ser nomeado, vira pensamento. O pensamento, por sua vez, vira prisão.
Como identificar se você está no piloto automático do overthinking
Nem todo mundo percebe que pensa demais. Afinal, pensar é algo que todos fazemos. Mas quando esse pensar começa a causar ansiedade, perda de sono, dificuldade de tomar decisões simples e ruminação constante sobre o passado ou o futuro… é aí que mora o problema.
Veja alguns sinais comuns de quem está preso nesse ciclo:
- Revisar mentalmente conversas por horas;
- Imaginar todos os cenários possíveis antes de tomar uma decisão;
- Sentir culpa por situações que não têm mais volta;
- Ter dificuldade em relaxar mesmo em momentos de lazer.
Esses sinais são convites à pausa. Não para parar de pensar — isso é impossível — mas para pensar de um jeito diferente.
Overthinking: um sintoma com raízes mais profundas
Pela perspectiva da psicanálise, overthinking raramente é o problema central. Ele é o sintoma. E como todo sintoma, está tentando comunicar algo. Algo que talvez não tenhamos tido coragem ou espaço para ouvir ainda.
Você já parou para se perguntar: O que eu não estou querendo sentir quando começo a pensar demais?
Às vezes, o pensamento compulsivo está escondendo a tristeza. Outras vezes, é raiva que não pôde ser expressa. Ou uma necessidade de controle que nasceu lá atrás, quando você precisou amadurecer cedo demais.
Aqui entra uma virada importante: entender o overthinking não como inimigo, mas como mensageiro.
Técnicas práticas para tentar sair do ciclo do overthinking
Entender a origem do pensamento excessivo é essencial, mas também é possível aplicar estratégias práticas no dia a dia para diminuir sua força. Aqui vão algumas delas:
1. Escreva para pensar melhor
O papel não julga, não corrige, não acelera. Escrever ajuda a organizar o caos mental. Quando colocamos no papel nossos pensamentos, eles deixam de ecoar e começam a ganhar forma. Começamos a perceber quais ideias são reais e quais são apenas fruto do medo.
2. Defina um “tempo de pensar”
Sim, você pode marcar horário para pensar nos problemas. Isso limita o tempo que o pensamento ocupa em sua mente. Exemplo: “Das 18h às 18h30 vou refletir sobre esse assunto”. Fora desse horário, se o pensamento voltar, diga a si mesmo: “Já pensei sobre isso hoje. Agora não.”
3. Traga o corpo para o jogo
Overthinking é um processo que fica “na cabeça”. Mas o corpo é o grande aliado para nos trazer de volta ao presente. Caminhar, praticar uma atividade física, tomar um banho consciente — tudo isso ajuda a silenciar o barulho mental.
4. Use perguntas, não julgamentos
Ao invés de se criticar por pensar demais, experimente perguntar:
- Do que eu estou tentando me proteger?
- Esse pensamento me aproxima ou me afasta do que eu quero viver
Essas perguntas tiram o pensamento do piloto automático e te levam para o autoconhecimento.
5. Meditação e respiração: abrindo espaço interno
Não, meditar não é “esvaziar a mente”. É observar o que vem, sem julgamento. A meditação treina a mente a não se agarrar a cada pensamento como se ele fosse verdade absoluta. Ela ensina o desapego sutil. A respiração consciente, por sua vez, ajuda a regular o sistema nervoso — acalmando o corpo e, por consequência, a mente.
Overthinking e autoestima: uma conexão invisível
Pensar demais muitas vezes é uma tentativa inconsciente de compensar uma autoestima frágil. Quem não confia em sua própria intuição ou valor pessoal tende a duvidar de cada escolha, reavaliar cada palavra dita, e se perder em pensamentos tentando “acertar”.
Mas acertar sempre não é humano. E pensar demais não é prova de inteligência, mas de insegurança travestida de hiperconsciência.
Se você sente que precisa pensar muito para ser aceito, talvez esteja tentando ser aceito pelas razões erradas.
Libertar-se do overthinking é um processo, não um botão
Muita gente quer “parar de pensar demais” da noite para o dia. Mas, como qualquer processo emocional, é preciso tempo, escuta e gentileza. Ninguém sai de um labirinto correndo — é preciso tatear as paredes, errar alguns caminhos e, sobretudo, pedir ajuda quando necessário.
A psicoterapia, especialmente com base em abordagens profundas como a psicanálise, pode ser um espaço potente para isso. Ali, o pensamento pode finalmente ser ouvido, compreendido e transformado.
Se você se reconheceu em tudo isso, saiba que não está só. Pensar demais não é uma falha, mas um reflexo de como você aprendeu a se proteger. Mas também é possível aprender novos caminhos. Com acolhimento, com escuta, com presença.
Overthinking não se resolve com respostas prontas. Ele se dissolve, aos poucos, quando nos permitimos sentir, falar e viver.
E talvez o primeiro passo seja esse: parar de tentar entender tudo de uma vez. E apenas se perguntar, com carinho: o que eu estou precisando agora?
Uma última coisa que talvez você precise ler hoje
Você não é seus pensamentos.
Você é quem observa os pensamentos.
E quem observa, pode escolher. Pode cuidar. Pode respirar.
E pode, com o tempo, aprender a pensar menos — e viver mais.
Gostou? Se você se identificou com este texto, compartilhe com alguém que também vive preso no ciclo do overthinking. Às vezes, uma nova perspectiva é tudo que a mente precisa para começar a se libertar.